Qual é o sentido da frase o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos de Simone de Beauvoir?

O clássico americano "Carrie, a Estranha" aborda a história de uma menina com problemas de socialização que vive sendo constantemente ridicularizada pelos colegas de escola que não compreendem sua realidade. Apesar de ser uma história fictícia, o drama vivenciado por Carrie é a realidade de muitas crianças e jovens que sofrem, intencionalmente e repetitivamente, agressões físicas e/ou verbais denominadas bullying. Tradicionalmente associada ao meio escolar, a prática do bullying vem tomando novas dimensões graças as consequências e impactos que pode gerar na vida do indivíduo e dos próprios agressores. Nesse sentido, é necessário observar os fatores e as consequências geradas por essa intimidação sistêmica a fim de debelar essa triste prática.       Devido a pluralidade de personalidades em desenvolvimento confinadas em um mesmo ambiente, a prática do bullying está associada, majoritariamente, ao ambiente escolar. Além dos motivos que levam o agressor à prática do bullying, como a demonstração de força e até mesmo sua própria proteção, é importante avaliar que por trás da figura do opressor existe uma plateia que legitima a agressão. Dessa forma, a não interferência das pessoas que assistem a prática da intimidação é proveniente do medo de sofrerem posteriores retaliações e do receio de se tornarem o próximo alvo da agressão, participando passivamente do bullying e fazendo jus a frase da expoente feminista Simone de Beauvoir: "O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos".       Ademais, é importante pontuar as consequências desenvolvidas pelo ato do bullying na vida do oprimido. A queda no desempenho escolar, por exemplo, configura como uma das mais imediatas reações as práticas de intimidação, como mostrado na pesquisa realizada em 2009 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), na qual foi apontado que quanto mais alto o índice de discriminação nas escolas, mais baixo é o rendimento de seus alunos. Outrossim, sintomas como depressão e baixa autoestima podem ser percebidos como resposta da vítima.       Partindo da teoria exposta pelo pedagogo Paulo Freire de "cultura de paz", na qual ele evidencia o papel da educação na exposição de injustiças, é necessário que as escolas capacitem seus professores, por meio de palestras, de treinamentos e de workshops sobre o bullying, a fim de instruí-los a identificar e inibir possíveis manifestações de intimidações entre os alunos. Ademais é necessário que as famílias se atentem às mudanças comportamentais dos filhos e busquem auxílio nas próprias escolas caso seja observado alguma anormalidade com o objetivo de evitar que o problema alcance maiores proporções. Talvez assim o período escolar não tornaria-se tão doloroso para Carrie e para as milhares de vítimas atingidas pelo bullying.

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Qual é o sentido da frase o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos de Simone de Beauvoir?

(Foto: Wikimedia/Moshe Milner )

Em janeiro de 1908, nascia a francesa Simone de Beauvoir, filósofa, escritora e ícone do pensamento feminista e existencialista. O existencialismo é a corrente filosófica do século 20, que tem como expoentes, além de Beauvoir, intelectuais como Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Maurice Merleau-Ponty.

Essa declaração de Sartre à revista Paru, em 1945, pode ajudar a entender o pensamento existencialista: "Não existe um caminho traçado que leve o homem à sua salvação; ele precisa inventar incessantemente seu próprio caminho. Mas, para inventá-lo, ele é livre, responsável, autêntico, e todas as esperanças residem dentro de si". 

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Sartre e Simone no memorial Balzac (Foto: Wikimedia/Archives Gallimard at Paris)

2. “Viver é envelhecer, nada mais”
A velhice era outro tema recorrente nos textos de Simone de Beauvoir. Em 1970, aos 60 anos, publicou A Velhice, no qual tratou do assunto como algo não apenas biológico, mas cultural. No livro, ela questiona a desumanização da velhice e a sexualidade tolida das idosas.

3. “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”
É a frase mais clássica de Beauvoir, retirada do livro O Segundo Sexo. Para ela, “nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”.

Em outras palavras, ela defende a distinção entre sexo e gênero. O primeiro é um fator biológico, ligado à constituição físico-química do corpo humano. Já o segundo é construído pela sociedade, ou seja, ser homem ou ser mulher não é um dado natural, mas algo performático e social — ao longo da história, cada cultura criou os padrões de ação e comportamento de determinado gênero.

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Quarta-feira, 29 de Agosto de 2018, 09h:20 - A | A

Qual é o sentido da frase o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos de Simone de Beauvoir?

“O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”. Essa frase é do ano de 1949 e foi escrita por Simone de Beauvoir, em seu livro “O Segundo Sexo”. Um ato de coragem ser feminista naquela época, mas um ato de sobrevivência ser feminista hoje.

Quando você vê uma mulher andando na rua com uma saia curta, a sua atitude como pessoa do mesmo gênero que ela é achar normal, pois ela pode se vestir como bem quiser ou a sua atitude é pensar: “depois reclama que é estuprada”. Se a sua resposta foi a segunda opção, vamos tentar refletir um pouco por meio desse texto.

Não sei se lhe foi dito alguma vez, mas animais são estuprados, bebês são estuprados, homossexuais são estuprados. A culpa é da saia curta? A culpa é do decote? A culpa é da bebida? Pois é, está na hora de apontarmos o dedo para os verdadeiros culpados. Aqueles que em sã consciência entendem o mal que estão causando e quão criminosa é a sua conduta. Sim, eles sabem e o pior é que eles também sabem que há muitas mulheres ainda que os defendem e acusam as vítimas pelo tenebroso crime que acabaram de passar nas mãos de bandidos.

Não foi a vítima que pediu para apanhar, não foi a vítima que pediu para ser assediada, não foi a vítima que pediu para ser estuprada, não foi a vítima que pediu para ser morta

Se quiser começar a acertar na sua forma de pensar, inicie entendendo que a culpa nunca, jamais, em hipótese alguma é da vítima. Não foi a vítima que pediu para apanhar, não foi a vítima que pediu para ser assediada, não foi a vítima que pediu para ser estuprada, não foi a vítima que pediu para ser morta. Mulheres, se unam. Estamos todas do mesmo lado. Somos vistas ainda como objetos a ponto de algum homem querer fazer com o nosso corpo o que ele bem entender e isso não é direito dele.

Quando alguma de vocês presenciarem uma ou várias mulheres sendo assediadas, não fiquem caladas, ajam em prol de todas nós, de tantas que são mães, avós, filhas, netas, sobrinhas, mas principalmente todas irmãs, porque esse é o conceito de sororidade: irmandade. Que criemos essa compaixão umas às outras, a fim de que não sejamos mais cúmplices de barbáries que acontecem cotidianamente no mundo em que vivemos.

A moça que ali se encontra não é sua inimiga pelo simples fato de não se vestir do modo que você julga correto. Nós somos livres em nossas opiniões e gostos, mas devemos permanecer juntas como pessoas que ainda precisam ser elevadas a um patamar de igualdade, afinal semanalmente morre uma de nós e o pior é que é pelo motivo de sermos do gênero feminino.

Não vamos apoiar pessoas que afirmam que quando nasce uma mulher, mesmo ela sendo sua própria filha, é dizer que houve uma “fraquejada”. Percebe quão absurdo é você como mulher ser a favor de discursos contra si mesma? Não, amigas. Não sejamos cúmplices dos opressores que nos nivelam por baixo por conta do nosso gênero. Somos muito mais que isso. O fraco é o preconceituoso, nós, meu caro, somos a verdadeira fortaleza em forma de ser humano.

Michelle Leite de Barros é advogada.